sexta-feira, 24 de junho de 2011


Atrizes na TPM e a Arte de Atuar


Outro dia estava dirigindo uma atriz que estava totalmente sem “vida”. Ela ensaiava com os braços ruzados, sem as intenções adequadas, sem vontade. Depois dos meus questionamentos ela disse que eu tinha que entender, afinal, ela estava na TPM. Era humana, e como todo ser humano tinha seus altos e baixos.

Eu disse: Não!

tpm1 Atrizes na TPM e a Arte de AtuarUm ator não pode sucumbir por uma simples dor de barriga. Parece que o grande Grande Otelo recebeu a noticia da morte de seu pai, minutos antes de entrar em cena. Entrou, fez toda platéia gargalhar e depois que o espetáculo acabou, ele foi embora chorar pela morte de seu pai.

O ator é assim mesmo, em primeiro lugar seu trabalho, seu público, sua interpretação. Mas notem, nem Falava sobre o amor incondicional à arte quando falava com minha atriz, mas sim, sobre a impossibilidade de fazer o ensaio render novas descobertas que melhorarão o produto final que é a encenação do espetáculo. Sem empenho o processo de ensaio que é muito rico, perde o significado.

Outro dia ouvi alguém dizer que: O ator deve fazer teatro, precisa fazer televisão e merece fazer cinema. Sem
dúvida é um presente para o ator a possibilidade de participar de um filme, com um bom diretor e equipe, um bom roteiro e um personagem instigante, melhor ainda. Precisa fazer TV por que é a maneira de ter seu trabalho reconhecido pelo grande público e deve fazer teatro por que o teatro é a “escola” que dará a melhor base para o trabalho do ator.

No teatro não tem esconderijo, não dá pra repetir a cena que não ficou boa, não dá pra esquecer o texto e não improvisar. Não dá pra fingir que beija ou que bate, a ação tem que acontecer realmente, talvez não realisticamente, mas verdadeiramente. E encontramos essa verdade durante o processo de ensaio.

O ator de teatro é um corajoso. Movido pela curiosidade, pela busca, pelo prazer, pelo jogo. Ao buscar as respostas para as dúvidas do seu personagem, ele, o ator de teatro, encontra respostas para as dúvidas de todos os seres humanos. Ao chorar é como se todos os homens chorassem, ou ao morrer, como se todos morressem.

O ator representa o que vemos no mundo, sua grandeza e sua fraqueza, sua glória e sua derrocada, mas representa. Ele deve ser um conhecedor da alma humana, fazer de tudo para transformar a platéia que está lá, vendo-o, ao mesmo tempo que transforma seus dilemas e suas experiências em matéria expressiva, em arte.

Mas como o ator aprende? Aprende observando, tentando, arriscando, expondo-se, expressando-se sem medo de parecer ridículo. Aliás, o ator não tem medo de ser ridículo, mas também não se coloca em cena de maneira desarticulada, desatinada, sem preparação corporal e intelectual. Seu corpo (físico, mente, voz e alma) não é um instrumento do seu trabalho, é o seu próprio trabalho, portanto é o próprio ator, ao mesmo tempo objeto de pesquisa e pesquisador. Seu corpo e sua voz devem levar a platéia a uma catarse, sem nunca deixá-los esquecer que aquilo é falso, é interpretação, é teatro.

O ator aprimora suas habilidades artísticas desenvolvendo-as para satisfação pessoal e coletiva, mas principalmente, para executar seu papel da melhor forma possível, para levar sua platéia à mundos desconhecidos, emocionantes, cômicos, românticos ou subversivos, principalmente mundo de imaginação e raciocínio.

O teatro é a arte da memória, da estética, da comunicação e da generosidade para o trabalho em equipe, então, não podemos deixar nossos problemas interferir no trabalho da coletividade.

Um comentário:

Anônimo disse...

vamos divulgar nosso blog, pois só assim seremos um grande grupo e quem puder passar para seus amigos agradecemos desde ja